“Em agosto nos vemos”, o romance póstumo de Gabriel García Márquez lançado nesta semana, quando ele completaria 97 anos, foi um desafio “indecifrável” para o Nobel colombiano perto de sua morte, contaram à imprensa seus filhos Rodrigo e Gonzalo.
Cerca de 15 anos antes de falecer, em abril de 2014, Gabo iniciou a escrita do livro que conta a história de Ana Madalena Bach, uma mulher que visita o túmulo de sua mãe em uma ilha do Caribe todo mês de agosto. A protagonista aproveita as viagens para deixar de lado sua vida de castidade e ter encontros eróticos com desconhecidos.
Em 1999, o Nobel de Literatura (1982) leu publicamente o primeiro capítulo, mas se absteve de publicar o restante da obra, pois não o satisfazia, limitando-se a entregar versões do manuscrito a seus familiares.
Ele considerava que o texto não fazia sentido e estava em “desordem”, então deveria ser descartado, relataram na última terça-feira (5) Rodrigo e Gonzalo García Barcha em uma coletiva de imprensa virtual da Espanha.
O “livro se tornou algo um pouco indecifrável” em seus últimos anos de vida, marcados por doenças e perda de memória, comentou Rodrigo.
Por decisão de seus familiares, os manuscritos e datiloscritos de “Em agosto nos vemos” foram depositados no Harry Ransom Center, uma biblioteca da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
De acordo com Gonzalo García, as opiniões de acadêmicos que leram fragmentos da obra convenceram os irmãos a unificá-los em um livro.
“Quando lemos as versões, percebemos que o livro estava muito melhor do que lembrávamos, então começamos a suspeitar que, assim como Gabo perdeu a capacidade de escrever, também perdeu a capacidade de ler” e, portanto, “a capacidade de julgar” seus próprios escritos, comentou.
Rodrigo adiantou que não existem mais romances ocultos de García Márquez, então “Em agosto nos vemos” é o “último sobrevivente” de seu universo literário.
Falecido na Cidade do México, García Márquez é considerado um dos autores mais relevantes da história e o mais importante escritor do “boom latino-americano”, um fenômeno das letras que surgiu nos anos 60 e 70.